22 abril 2009

O problema é a superlotação

O dinheiro compra mesmo quase tudo. Até saúde.
Não adianta tentar me convencer do contrário.
Dinheiro compra diploma. Dinheiro compra profissional. Dinheiro compra atendimento de qualidade.
Pode fazer hospital. Pode fazer postinho de saúde. Pode criar mil clínicas de reabilitação e de um monte de ninharia. Na hora que mais se precisa é preciso correr para o Doutor Beverly Hills. Pague-me e dar-te-ei uma receita.
Se funciona? Só Deus sabe. Mas sai na horinha. Ou pelo menos saía até criarem os planos de saúde que enchem as clínicas e esvaziam os bolsos dos profissionais e dos que insistem em ficar doentes. E aí é gasto pra prevenir. E dói sabe-se lá se mais no bolso ou no probleminha gástrico.
Nós sabemos, nada é de graça. Mas parece que nem o sistema brasileiro de saúde quer ser.
Os hospitais, amiguinhos, são as instituições com maior potencial de lucro dentro da área da saúde. Dos mais de sete mil hospitais no país, pouco mais de 2.800 são públicos ou tem convênio com o SUS – Sistema Único de Saúde..
Quer ir mais a fundo? Temos pouco mais de 500 mil leitos. 500 mil para uma sociedade de mais de 180 milhões de trouxas como eu que perco meu tempo alfinetando meu próprio estômago. Porque haja estômago para ler isso e não ter poder para fazer nada. NADA!
Agora me diz se o camarada que tá com o filho de 10 anos passando mal vai esperar na fila toda essa renca de gente ser atendida para ver o que o garoto tem? Vai pro particular. Vai pro convênio – que, aliás, na minha nada humilde, mas medíocre opinião deveria ser proibido no Brasil. (Lavagem! Superfaturamento! Filhadaputice!)
Mas dinheiro compra saúde de qualidade. Compra pelo menos a certeza que não vai morrer na fila de espera.
E não me venha com a hipocrisia de dizer que não pertence ao capitalismo. To falando de um modo de produção, não de um sistema político. Nós estamos no mesmo barco. A economia está cada vez mais dependente de um Estado superprotecionista que manda nesse mundinho que não é pequeno. Fazer o quê? Engole essa porque ninguém vai facilitar as coisas pra você.
Até os mendigos são capitalistas. Eles querem grana porque pertencem a um sistema capitalista. E pronto. Encher o caneco de graça só na casa do meu padrinho que tem um alambique particular lá em MG.
Lembra do celular, artigo de luxo? Todo mundo que nasceu antes dos anos 90 já sobreviveu sem ele. Mas agora é artigo indispensável. Vaidade capitalista.
Se os impostos gerados na produção de celular fossem revertidos para a saúde pública é possível – e isso é só uma especulação – que o atendimento fosse, pelo menos, mais rápido.
E tem gente que reclama de segurança pública. Deve morrer mais gente em hospital do que na rua. E ninguém reclama. “Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance” os elegantes corpos que preenchem os jalecos brancos dizem. BALELA! Se tivesse mais dinheiro... Talvez... as coisas podiam ser diferentes. Talvez, porque tem uns que estão mesmo predestinados mais cedo ao calvário. E que Deus tenha os que vão e principalmente os que ficam.

O que eu quero, meu povo - que não é meu porque ninguém aqui é dono de ninguém - é que a segurança pública vá para a puta que o pariu. Se falta atendimento à saúde melhor mesmo é ir para o inferno onde o diabo resolve qualquer problema numa fogueira vermelho-escarlate.
Se não tem educação, emprego e saúde. De que adianta “segurança pública”? Tem que resolver o problema na raiz. Querem decepar a perna do Brasil sendo que o problema tá no dedão do pé. O país tem cerca de 16 milhões de doentes mentais e pode crê que boa parte deles devem ser políticos. (Apenas uma reflexão sem preconceitos)
Faltou dim-dim e tem problemas psicológicos – ao mesmo tempo? Ideal é fantasiar-se de homem-estátua e pedir grana em dias secos. O que vai deixá-lo morrer de inanição se viver na mesma cidade que eu – onde chove 90% do ano.
Eu moro na capital social do Brasil. Social, claro, referente as solenidades organizadas entre a nata elite curitibana em grande parte feminina. A capital da mediocridade. Uma sociedade que qualifica o ser humano pelo número de relações sexuais, sendo que a escala máxima de parceiros é dois. E na hora de empregar quer alguém com experiência. Quanta incoerência! Uma sociedade que reclama dos impostos que paga, que quer ver vantagens no dinheiro que investe, mas não se submete ao postinho de saúde local. Uma sociedade que prefere Mc Donalds ao Montesquieu, que tem o melhor X-bolinho do mundo por 2,70 (valor sujeito a alterações).
Mas quem não tem grana pra bancar nem o Montesquieu e muito menos Mc Donalds quer ser gente também. Só que pra ser gente nesse mundinho tem que ter dinheiro. Do contrário não é gente.
Aí a solução é ir pedir grana, é querer grana, é me dá grana, é me passa a grana. Tudo isso pra investir o dinheiro nem sempre lícito em comida importada de uma empresa que se orgulha em dizer que contrata funcionários brasileiros, mas esquece de contar que paga com salário de escravo. Empresas craques em fazer lavagem do nosso dinheiro. Faturam e mandam lá seus 40, 50, 60% pro Impériozinho que tá imprimindo dólar e botando na conta pra gente pagar.
Sociedade que faz campanha anti-drogas mas freqüenta as baladas noturnas da Avenida Batel cheirado de pó de giz, achando ainda que tá curtindo mó barato.
Mas toda essa conversa não tem nada a ver com os hospitais públicos brasileiros, não é verdade? Paremos de pensar no coletivo de uma vez. Vamos assumir nosso persistente egoísmo, nossa insensibilidade com o coletivo.
A questão é mesmo o individualismo. Confesse.
- Pode pagar? Vá no particular!
- Não pode pagar? Foda-se!
Eu não posso pagar. E tô me fodendo. Ganho uma merreca de um salário, mas me arrisquei numa clínica privada especializada crente de que meus problemas acabariam no primeiro dia. Fiquei uma semana fazendo exames. Gastei mais da metade do meu salário (fora os cheques sem fundo) com ecografia, endoscopia, hemografia, putaqueparioslopia e o diabo. Mais consulta. Mais remédios. Mais dinheiro. E o médico me dá o diagnóstico final: superlotação do transporte público da capital social. É estresse. ESTRESSE.
Mas descobri que a crise – estomacal, no caso – chegou até para as estrelas.
Encontrei lá o eterno mestre boca-suja da tv paranaense, Luiz Carlos Alborghetti, passando mal pacas. Cheguei até a imaginá-lo vestindo o almejado paletó de madeira. O cara soluçava incessantemente e senti-me na obrigação de falar por ele. Uma nuvem de pensamentos maliciosos sobrevoando minha mente. O cara levou duas horas e 20 minutos para ser atendido. E eu duas e 40. DUAS HORAS! E no particular. Mal. Feio pra dedéu. Já disse que ele tava mal pacas?
Enfim, quando saiu do consultório o cara já não era mais o mesmo ídolo da tv cadeia. Bicho manso. Sem protestar. Pagou a conta. Não reclamou do horário de atendimento e nem dos 5 minutos de consulta. Nem ele – o rei do palavreado baixo – entrou em ação.
É o que faz conosco a saúde. Ou a falta dela.
Deixa-nos indefesos. Sem reação. À mercê de qualquer um e a preços exorbitantes. Fora do nosso planejamento.
2.800 hospitais públicos. 5.564 municípios.
500 mil leitos. 180 milhões de habitantes.
E pensar que em Cuba um médico ganha um salário mínimo. Um salário num país que tem a melhor medicina do mundo. De graça.
E aí aparecem uns dizendo que o Sistema Público de Saúde brasileiro não funciona.
OREMOS. É a saúde ou a administração pública que não funciona?
A solução desse problema é o que o dinheiro ainda não conseguiu comprar.