27 abril 2006

Sobra

Se a sombra da ausência é o que sobra
Então a ausência dela é o assombro da sua vida?
E a sombra dela é o que te sobra?
E sua vida é a sombra do seu passado?
Logo seu passado é a sombra da sua vida?

Se a sombra da ausência dela sobra
E se sua vida é a sombra do seu passado,
Então ela é a ausência da sua história?
E é o que sobra da sua sombra,
Que te assombra sem sua sobra?

Pois, para mim, a sobra da sombra da sua ausência,
é só o que me sobra!
A sombra que sobra ao meu lado não é você.
É a sombra da sua ausência que sobra.
Para mim, ainda há uma sobra?



Poesia publicada no suplemento PALAVRA VIVA - edição 2006.
Nanbio

Eles são dois. Mas mais parecem um.
Até seus gestos parecem querer apontar um ao outro, como se quisessem mostrar que se pertencem. Como se um centímetro de distância fosse muito longe para os dois.
Talvez se pintássemos e cortássemos o cabelo dela e trocássemos os óculos dos dois, eles ficassem realmente iguais.
Mas eu acho que nada que é muito forçado fica assim, tão perfeito, como eles naturalmente são.
Suas vozes se unem num coro suave em uma mágica sintonia, que toca o mais fiel dos sentimentos: a confiança.
Ali, naquele ninho, podem jogar toneladas de pedras que os ovos não quebram.
Quando eu os vi juntos pela primeira vez, me perguntei se eram irmãos, amigos desde a infância, gêmeos. Mas não. Eles são mais do que isso, e eu posso garantir só de olhar uma única vez: eles são marido e mulher, até que nem a morte os separe.