01 novembro 2007

O dia em que Luciano Huck tentou suicídio


Gostei muito da iniciativa da Revista Época (Edição de 15/10) em escrever sobre o assalto a Luciano Huck, em São Paulo, no começo do mês de outubro e sobre como o brasileiro vê essa situação.
A capa da revista trouxe a foto de Luciano Huck e, logo abaixo do seu narigão, a pergunta: “Ele merecia ser roubado?”
Não! Huck não merecia ser roubado. Ninguém merece ser roubado. Roubo é crime e os crimes devem ser punidos. Até aí, talvez muitos ou todos concordem.
Agora o fato é que o que roubaram de Huck não vai fazer tanta falta pra ele quanto os cerca de 4 a 12% (Menos? Mais?) do salário mínimo do trabalhador brasileiro que lhe é tirado a força para pagar impostos todo santo mês. E se for no Paraná, onde o caboclo se acha feliz por ter o salário mínimo mais alto do país, a mordida pode chegar até 70 reais.
Mas o Luciano Huck, coitadinho, “jurou que paga todos os seus impostos”. Logo, ele tem direito de reclamar. Agora, me diga porquê a criatura teve que jogar pros quatro cantos do mundo – se é que mundo tem canto – que o que ele ‘perdeu’ foi um rolex que pode custar 50 mil reais?
Olha, vou mostrar minha solidariedade ao Huck, sem ironia. Se uma pessoa quer comprar uma BMW Z3 e ficar desfilando por aí, qual o problema? A pessoa já vai pagar um alto preço (fora o seguro e o valor do automóvel) pra ficar andando com seu carro e pagando-lanche pra meninada. Afinal, não são todos que têm cara de usar um carro desse porte onde só há lugar para o motorista e um passageiro. Eu, sinceramente, teria vergonha. Se eu ganhar, vendo e compro tudo em bala.
Você pergunta, o que tem demais um veículo ser só pra duas pessoas? E as motos?
Bom, as motos que mais circulam no Brasil não custam 300 mil reais e também não gastam 10 litros de combustível a cada kilômetro rodado.
Deixando de lado a solidariedade a Huck, vamos pensar no lado do grande herói do Morro dos Trombadinhas de ‘Catígoria’. O malandrinho que levou o tal Rolex do Luciano Huck deve estar famoso lá perto do barraco onde mora. “Pô, tá vendo aquele lá? É o cara que roubou o Huck!”. Um Rolex que deve ter sido vendido por uns mil reais, e olha lá. Pra piorar, o dinheiro foi divido entre uma meia dúzia de neguinhos, senão mais, pra ficarem de bico calado ou simplesmente por terem ajudado na mega operação que desbancou todos os seguranças - muito mais bem pagos que a polícia de São Paulo - de um dos apresentadores mais bem pago da tv brasileira.
O fato é que a Época tentou mostrar o lado invejoso do brasileiro, o lado desumano de quem pensa que só porque o cara é rico, não tem direito de reclamar. TEM SIM!
Mas vai reclamar na polícia, coisa que o senhor apresentador não fez. Claro que não fez. Porque pra fazer B.O não dá pra mandar a secretária. Pra fazer B.O tem que ser pessoalmente. E ter que pegar fila como todo mundo? Nem a pau...
Pois então, sem luck, bau-bau.
Aí, como o Seu Jaiminho, para evitar a fadiga, o que o Luciano Rico Huck fez? Deu um tiro no pé, igualzinho a Veja no caso Che. O apresentador foi na Folhinha de São Paulo e publicou o seu emputecido depoimento sobre o dia em que levaram o seu rolex. Mas o que importava, ele disse, era o valor sentimental. Ele explicou que ganhou o relógio da sua esposa, a também apresentadora-quase-morta-de-rica-agora-fábrica-de-fazer-filhos, Angélica, que tem uma pinta banhada a ouro tatuada na coxa direita. Esquerda?
Ora, esfregar 50 mil reais na cara de pobre é de matar. Ou, é pra roubar.
Mas não pode. É crime. Não caia nessa.
Porém, para que o pobre – lê-se ‘eu’, diga-se de passagem – resista à tentação, é preciso emprego, salário decente, casas a preços populares, infra-estrutura do bairro digno de se viver, enfim, a tal da igualdade social. E pra ter igualdade social, o rico tem que ficar menos rico. E quem ouviu dizer que alguém que um dia senta no trono quer deixar a majestade?
Só matando! Ou roubando.
E no final a moral da história ninguém descobriu porque a segurança brasileira está mais escura que metrô em dia de apagão. E aí, meu filho, na hora do aperto, pra quem prefere enxergar a vida com os próprios olhos, que faça sozinho a sua moral.
Pois então, na minha medíocre opinião geral sobre um caso mais medíocre ainda, Huck tá certo. Tem que reclamar da violência urbana, tem que reclamar da falta de segurança. Tem que meter o pau!
Mas quando ele fez isso? Quando sofreu na pele a situação. E quantas vezes você precisou vivenciar a situação para notar um problema na sociedade? Pô, eu perdi a conta. E quantas vezes te deram a oportunidade de colocar um artigo na íntegra na Folha de São Paulo? A mim, nunca.
Agora diz você: Será que Luciano foi realmente assaltado ou foi vítima de uma chantagem da outra?

É a vidinha!