08 setembro 2009

O pedreiro devoto

De segunda a sábado ele acorda às 5 da manhã. Toma banho pra despertar, se veste e toma um café bem doce. Anda para o ponto pegar o ônibus das 5:40. Leva consigo a marmita que estará fria até o meio-dia. Cumprimenta os colegas. Troca de roupa e vai para o trabalho. Profissão? “Pedreiro. Não. Nem pedreiro eu sou. Eu sou servente de pedreiro”.
A história de João Maria da Silva seria igual a de muitos pedreiros ou serventes de pedreiro do Brasil, não fosse uma diferença...

Ele leva o carrinho de mão, põe e joga cimento. Mistura o cal com areia. Retira os entulhos do caminho. Aprende novas técnicas. Quem sabe um dia vai subir de cargo. Trabalha. Sua. Trabalha.
Um saco de cimento que ele descarrega por hora na construção vale mais que um dia de trabalho dele.
O almoço, normalmente, é carne moída, arroz. Às vezes ovo frito. Às vezes uma bananinha. A comida é uma delícia. Dona Guantina, a esposa, é que prepara. Bebida? É luxo.
Ainda com a bóia cheia, vai pegar pesado. Enquanto um pedreiro faz a cesta o outro já começou. E o servente... Bem o servente tem que agüentar o tranco POR DOIS.
No fim do dia, a rotina é inversa. É como rebobinar uma fita de vídeo. Troca de roupa. Cumprimenta os amigos. Pega o ônibus e leva consigo a vasilha da marmita, agora vazia. Só que o destino que João Maria toma não é o de casa.
E é assim todos os dias.

Ao invés de cumprimentar a esposa e os filhos, ele vai pedir a bênção de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais: a padroeira de Curitiba. Em busca de um milagre.
E é assim todos os dias. Há 65 anos.
É como reabastecer a bateria. Vem agradecer por ter – há quase 60 anos – o emprego de servente de pedreiro. Vem agradecer por existir.
E o Sr. conseguiu algum milagre?, pergunto.
O da vida.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Nossa! Que lindo!!!!

10/09/2009, 19:05  

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