Mentir dá dor de barriga!

Você chega com o nome do produto como se o farmacêutico não soubesse a composição:

- “Lacto-purga”, por favor.

Sente na hora um olhar estranho. Como se o próprio dissesse “hummm... quer dizer que Vossa Senhoria não está conseguindo cagar?”.

Pra ilustrar esse momento infame, vou contar parte da minha rica e desagradável história.

Quando pequena meus pais me pediam para comprar o tal do sal amargo. A composição é sulfato de magnésio (MG SO4). Serve pra depurar o sangue, desestimula a desintoxicação e dizem que normaliza o sono. Entra estas e outras coisas sal amargo é também laxante.

- “É pra temperar salada, pai?”

- “É. É pra temperar!”

A pobre inocente entra na farmácia gritando:

- Onde é que tem sal amargo aí?”

Quando se tem 12 anos você esbraveja, não há do que se envergonhar. Quanto mais te ouvirem, melhor. E as coisas mudam.
Sal amargo. Sal amargo. Sorrindo e quase cantarolando no ritmo de “olha o passo do elefantinho”. Como se fosse a coisa mais importante do mundo pedir... sal amargo.

Os velhos me matavam de vergonha. Mas o farmacêutico devia sacar. “Aquele safado do pai dela não deve estar conseguindo cagar”.

Quando tinha uns 13 ou 14 anos (só para informar, isso foi há uns quatro anos atrás) resolvi fazer o almoço. Estava aprendendo a cozinhar. (Estou até hoje).
Dentre os quitutes tinha salada. Mas não uma salada comum. Quis inovar.

Botei alho, orégano, catchup, mostarda, vinagre, azeite e... sal. Sal amargo.

- “Era pra dar aquele efeito agridoce, pai”.

Deu um efeito colateral. De uma tarde inteira. Talvez duas.

Bem, é isso que dá mentir pros filhos.