14 agosto 2009

Farmácia!

Existe algo mais vexatório do que ir a uma farmácia?
Se você acha que sim é porque você nunca precisou comprar um laxante.
No balcão, você diz o nome do medicamento como se o farmacêutico não soubesse a composição do produto:
“Lacto-purga”
Sente na hora um olhar estranho. Como se o próprio dissesse:
- “Hummm... quer dizer que Vossa Senhoria não está conseguindo cagar?”.

Quando pequena meus pais pediam para eu comprar o tal do sal amargo. A composição é sulfato de magnésio (MG SO4). Serve pra depurar o sangue, desestimula a desintoxicação e dizem que normaliza o sono. Entra estas e outras coisas sal amargo é também laxante.
- “É pra temperar, pai?”
- “É. É pra temperar!”
A pobre inocente entra na farmácia gritando:
Onde é que tem sal amargo, hein?”
Os velhos me matavam de vergonha. Mas o farmacêutico devia sacar. “Aquele safado do pai dela não deve estar conseguindo cagar”.

Quando tinha uns 13 ou 14 anos resolvi fazer um almoço. Estava aprendendo a cozinhar. (Estou até hoje).
Dentre os quitutes tinha salada. Mas não uma simples salada. Quis inovar.
Botei alho, orégano, catchup, mostarda, vinagre, azeite e... sal amargo.
Era pra dar aquele efeito agridoce, pai”.
Deu um efeito colateral. De uma tarde inteira.
É isso que dá mentir pros filhos.

Mas as mulheres, essas também sofrem com os olhares recriminatórios dentro da farmácia. Cada produto gera um balãozinho com o pensamento do farmacêutico.
Absorvente. “Quer dizer que o Chico chegou?”
Anticoncepcional. “Quer dizer que não é mais virgem, né?”
Preservativo. “Quer dizer que vai dar uma, é?”
É um sufoco!
Só que enquanto comprar essas “coisinhas” nos causa uma sensação desagradável, tem gente que deve passar mal pedindo “coisonas” mais sérias.
Para um homem, por exemplo, deve ser humilhante comprar viagra.
O cara chega de óculos escuros. Cabeça baixa. Fala com a boca semi-fechada.
“Me vê uma vitamina c. Quatro aspirinas. Um xarope. Pastilhas para garganta. Um viagra. Dois pacotes de gaze.”

Não adianta. Tentar disfarçar como se fosse só mais um elemento no meio de um monte de porcarias?
Ele não vai anotar tudo o que você disse na hora. Vai pedir pra repetir.
E vai doer, cada vez que você tiver que dizer ou ouvir “viagra”.
Você disfarça. Age como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas não é normal.
Nada que se compre na farmácia é normal. Falo de uma farmácia de verdade. Não esses centros de conveniência que vendem até a mãe.
Depois de repetir ele diz. “Viagra não tem. Mas tem um similar, o Zenerx, com 60 cápsulas”.
Aí o cara já está gozando com a sua cara. Tá achando que um comprimido não resolve. Você precisa de 60. Sessenta. “Entendeu, ô careca?”

Se não bastasse essa vergonha você ainda tem que tomar uma decisão. E uma decisão rápida. Pede todos os outros produtos só pra disfarçar. Se recusar o Zenerx não poderá recusar o resto porque senão fica estranho. Você teria que sumir dali e queimar a cara em outro lugar. Então, pra evitar maiores retaliações, decide pelo Zenerx.
“Pode ser. O meu amigo que pediu nem vai notar a diferença.”
MEU AMIGO? Essa é pra acabar.
Você acha que o farmacêutico é idiota pra achar que existe um AMIGO que pede algo desse tipo? Só se for o pessoal do Fresno.
Aí você começa a se distrair com os folhetins de promoção. Olha para o lado. Tira o celular do bolso. Mas é como um soco no estômago.
Você quer sumir da farmácia. E quando pensa que só vai pegar tudo e ir embora, lá vem ele todo de branco com as orientações.
- “Está aqui a sua vitamina c. As quatro aspirinas. Xarope. Pastilhas para garganta. O Zenerx e os dois pacotes de gaze. O Senhor sabe como funciona o Zenerx? É igualzinho o Viagra. Só que o efeito é mais rápido. Se o senhor tomar...”.
- “Ah, eu conheço sim”. Você diz todo educado pra ver se aquela matraca cala a boca. “Digo, meu amigo deve saber como funciona.”

Precisa repetir? Você sabe tudo o que está lá no balcão e o atendente deve saber também que isso é constrangedor. Se alguém quiser informações, lê a bula. A não ser que seja cego. Ou analfabeto. Ninguém precisa dizer.
A sorte é que Zenerx é menos comum. Quase ninguém conhece. Só o farmacêutico que tem acesso irrestrito ao produto, aquele canalha, é que vai saber que o teu negócio não levanta mais.
Anticoncepcional é uma prevenção.
Laxante é para aliviar as tensões estomacais.
Absorvente é necessário para a natureza feminina.
Viagra é para o cara que ainda quer satisfazer os seus prazeres carnais.
Deveria ser algo natural. Compreensível para os farmacêuticos e nem um pouco constrangedor para qualquer ser humano que precise de um desses itens.
Mas não. Eles sempre precisam olhar para nós com aquela cara. Aqueles balõezinhos saindo daquelas cabeças normalmente ovais e sem expressões.
Eles nos esnobam porque lá no fundo da farmácia, escondidos das câmeras de segurança e dos outros funcionários, eles roubam Zenerx. Vitamina C. E, às vezes, O.B.
E nem sempre esse último são para elas.
É a vidinha.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

E aí, levantou?

14/08/2009, 23:16  
Anonymous Periodista said...

Diga-me você, que costuma tomar sempre.

17/08/2009, 11:47  
Anonymous Anônimo said...

ahahaha

10/09/2009, 19:56  
Anonymous Anônimo said...

Gostei muito muito deste texto. Realmente é a pura verdade. Mas entre passar vegonha com o atendente da farmacia e tavez até com outros frgueses óu com alguem na hora "H"; fico com toda a vergonha na farmácia Lá eu não volto mais. Já "faia" na hora "H" é duro mano. kkkkk

13/04/2010, 08:24  
Anonymous Anônimo said...

O pior é que entrei aqui, só pra ver se tinha alguma orientação séria!!!!
Voce que escreveu o texto está de parabéns!!!
Nem precisei tomar o tal do Sal Amargo !!
Ja me deu uma puta dor de barriga que estou indo pro banheiro . Realmente.....rir é o melhor remédio

20/08/2011, 21:01  

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