Quem vai nos defender?

A nossa constituição brasileira – atualíssima, por sinal – tem mesmo seus pontos hilários. O artigo 6º, por exemplo, aborda uma das questões mais contraditórias da nossa realidade. Sobre as garantias fundamentais do indivíduo, o inciso diz que todo cidadão brasileiro terá direito a “educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança” entre outros quesitos.
Ter tudo isso garantido pelo Estado seria viver dignamente.

Mas como afirmar que no Brasil se vive dignamente depois de um médico, no Rio de Janeiro, se recusar a atender duas mulheres em trabalho de parto que perderam seus filhos enquanto buscavam um outro hospital?
Saúde? Onde? Se apenas 2.800 hospitais no país são públicos ou têm convênio com o SUS – Sistema Único de Saúde. São pouco mais de 500 mil leitos para uma população de 180 milhões.
Filas incomensuráveis. Horas de espera. E, nem sempre, o atendimento prometido.

Segurança? Onde? Se só no Rio de Janeiro mais de 40 pessoas morrem por mês vítimas de bala perdida? Como sentir-se seguro em um país onde um senador da república representa por mês aos cofres públicos um gasto de mais de 1 milhão de reais?
Segundo estudo feito pela ONG Transparência Brasil, um único deputado federal ganha 68 vezes o PIB do Brasil.
Enquanto isso... onde é que está o direito à educação, se mais de 16 milhões de pessoas no Brasil nem podem ler esse texto porque são analfabetas?

A verdadeira democracia deveria oferecer esses e tantos outros direitos que prega. Mas onde está ela quando o Supremo Tribunal Federal decide suspender a obrigatoriedade do diploma de jornalista – justamente o que tem como principal função ser um intérprete da informação. Um defensor da sociedade. Será que eles têm medo de jornalista estudar e ficar, assim, sabidão? Enquanto isso o Ministério da Educação prega o aumento nas salas de aula, o incentivo a graduação e especializações. O Governo federal até decretou aumento para os servidores públicos que adquirirem títuto de mestre. Mas pra quê tudo isso?
Lazer? Só se for a custo próprio, pois até mesmo em museu (do Estado) a entrada é cobrada.
Trabalho? A Bosch, que recebe como incentivo do governo federal e estadual desconto em impostos, demitiu 900 funcionários no mês passado sem justa causa. E pra onde vão esses trabalhadores, muitos deles pais de família?

Mas de que adiantaria ter tudo isso se não houvesse onde dormir? Cidadãos que levam anos para conquistar a casa própria. Uma casa que foi construída num território livre porque, afinal, Deus não passou escritura pra ninguém. Passou?

1988. Já faz um bom tempo que ninguém dá uma atualizada nos nossos direitos. Podiam, quem sabe, lembrar dos velhos artigos.

É a vidinha!

E que vidinha....