21 maio 2007

“Pinheiro é uma árvore que não se transplanta”


Conhecer Miguel Sanches Neto foi uma gostosa surpresa!
No 3º Paiol Literário de 2007, o escritor, professor e crítico de cinema contou para o jornalista Paulo Camargo, editor do caderno G da Gazeta do Povo e cerca de 60 pessoas, desde a sua iniciação na leitura literária até seus trabalhos mais atuais.
E foi de uma maneira bastante peculiar que Miguel Sanches Neto iniciou na vida literária. “Eu acho que sou o único caso em que a violência foi positiva para mim. O meu primeiro contato com a leitura foi batendo em um amigo meu. Fui levado à biblioteca como castigo e lá tive que ficar lendo literatura. E eu não tinha esse contato com a literatura na escola, eram só livros técnicos. Aí virou uma válvula de escape. Toda vez que acontecia alguma coisa comigo eu ia para a biblioteca ler. Minha mãe dizia “olha como esse menino estuda”. Mas não, eu tava era lendo mesmo. No final das contas foi uma punição que se tornou uma salvação” brincou o escritor.
Muito à vontade e falando ao público como se falasse aos amigos mais íntimos, Miguel mostrou simpatia, humildade e um impressionante carisma. O mediador improvisado, que veio para substituir o jornalista José Castello, se mostrou bastante agradável nos 95 minutos de entrevista, apesar de uma visível timidez perante o público.
O que com certeza mais marcou na entrevista de Miguel foi o carinho demonstrado com muita espontaneidade pelo Paraná. Foi após sair do interior do estado, Bela Vista do Paraíso (onde nasceu) e Peabiru (onde cresceu), e vir para Curitiba, que Miguel começou a escrever. Em um isolamento forçado, Miguel teve de se adaptar ao clima da cidade para escapar da solidão. “Gosto muito de um poeminha do Leminski que diz: ”Não discuto com o destino, o que pintar eu assino”. Então foi meio assim, de uma forma que eu nem esperava, na necessidade de fazer algo, de sobreviver até, que comecei a escrever”.
Miguel veio à Curitiba em busca de um novo cenário para a vida e encontrou aqui cenários para a sua escrita. “A grande experiência para mim foi ler Dalton Trevisan – Cemitério de Elefantes – na adolescência. Foi um choque para mim aquela leitura. Eu não entendi quase nada. Mas comecei a ler todos os livros de Dalton porque ele falava de Curitiba. A impressão que eu tinha na época é de que só podia se escrever sobre Rio de Janeiro, São Paulo, Nova York. E lendo Dalton eu descobri que podia escrever sobre outros lugares, incluindo sobre Curitiba. E, na minha época, quando se queria sair do interior, a maioria das pessoas ia para São Paulo. E eu pensei: quero ir à cidade revelada por Dalton Trevisan. Eu quero ir para a Curitiba de Dalton Trevisan”.
Hoje Miguel Sanchez Neto mora em Ponta Grossa, mas foi aqui em Curitiba que escreveu diversos livros que têm momentos de crônica, conto, prosa e poesia. Mas Miguel confessou que sente uma necessidade de ir para uma cidade maior. “Meu sonho hoje é morar em Madrid ou Nova York. Eu tenho essa obsessão agora de ter uma experiência cosmopolita, sabe?” disse procurando um apoio de Paulo Camargo. “Eu gosto muito de Ponta Grossa. Descobri uma cidade subterrânea lá. Por conta da internet, do computador, é possível ser escritor em Ponta Grossa. Tenho vontade de viajar sim, ficar um tempo fora, mas para morar é Curitiba ou Ponta Grossa. Quando você fica alguns dias fora e volta de avião, vendo aquela paisagem do Paraná, aquilo é lindo. É um verde diferente. Não tem igual em lugar nenhum. Um amigo meu resume tudo: “Pinheiro é uma árvore que não se transplanta!”.


O Paiol Literário acontece uma vez ao mês no Teatro Paiol, em Curitiba, com entrada franca. O próximo encontro será dia 19 de junho com o escritor, antologista e tradutor, Flávio Moreira da Costa.
Matéria publicada no jornal FAROL de Maio de 2007.

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