16 fevereiro 2012

ABANDONADOS


O bairro deveria ser considerado nobre. Afinal, está cercado por dois grandes e modernos empreendimentos de Curitiba. O Shopping Total e o Shopping Paladium quase abraçam a Praça Prof. Hildegard Schamah.


Logo atrás do Terminal do Portão, o pequeno bosque parece esquecido. Apesar do mato – quase todo mês aparado – a sujeira predomina no local. Não há uma lixeira na proximidade para evitar a proliferação de entulhos. A cancha esportiva, que nunca foi cimentada para uso mais constante das crianças e até mesmo de adultos, fica cheia de poças d´agua após a chuva. Quase sempre inapropriada para uso.

Ao invés de seguranças, o que se vê é um número considerável de guardadores de carro que nem sempre estão atentos aos constantes assaltos da região. Por muitas vezes impõem um valor monetário pelo serviço que deveria ser feito pela prefeitura. Mas para quem vai ao shopping e deixa o carro nas imediações, o risco de voltar e não encontrar o veículo é grande.

Na Rua Caetano Marchesini, esquina com a Calixto Razolini, não raro se vê um assalto aos moradores e trabalhadores da região. Os aparentes problemas de segurança diminuíram na metade de 2011 quando m
oradores da região, revoltados, alertaram a imprensa local para investigar o que realmente estava acontecendo com a administração da praça.

Seo Francisco, que é porteiro há mais de 12 anos no edifício que fica bem em frente à praça, perdeu as contas de quantos roubos presenciou enquanto trabalhava. Vê tudo a olho nu ou ainda pelas câmeras de segurança que estão em volta do prédio. É raro o dia em que não se depara com algum assalto.
Até ele já foi vítima. Quando chegava para trabalhar, um ladrão lhe deu voz de assalto bem em frente ao portão. Quando o outro porteiro ainda de plantão foi verificar o que acontecia, o assaltante pediu que seo Francisco o abraçasse e dissesse que ele era seu amigo findando mais um assalto sem ser punido.

O abandono do Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, que fica nos fundos da praça, também colabora com a situação de risco. Fechado para reforma, o MUMA – que
abriga obras de Di Cavalcanti e Portinari - ainda está sem previsão de reinauguração.

Uma placa, quase na entrada principal do Museu alerta para o início da reforma em uma das passagens em outubro de 2009, mas obras concretas ainda não foram vistas. São as pichações e os entulhos que tomam conta do lugar que um dia foi referência de cultura para a capital paranaense. Os garis, responsáveis pela limpeza do local não vêem movimentação alguma ali há mais de cinco anos. Seo J., nunca viu o prédio em funcionamento. “Uma vez ou outra eu vejo alguém entrando aí. Mas é tudo fechado. Dizem que vão botar pra funcionar isso aí logo. Mas eu escuto isso faz tempo também”.

Uma passagem entre o terminal e o bosque, num dos cantos do Museu, é local de roubos, uso de drogas e violência. Um ponto de marginalização. O que antes era o orgulho dos que moram por ali, hoje é sinônimo de medo.

Tudo em torno da Praça, ponto de lazer e com grande potencial para turismo na cidade.

Após a reclamação, o que foi feito foi uma devastação, quase completa da área verde. Dois bancos de praça foram instalados no local, assim como postes de luz – típicos da nova reforma richaniana da capital, menina dos olhos do governador paranaense.

Em 2012 a prefeitura iniciou uma nova movimentação na praça. As pseudo-calçadas em petit-pavê estão sendo retiradas. Não há informações sobre o que será implantado para substituir, mas ainda que haja interesse em melhorias, as atitudes caminham a passos lentos.