25 maio 2009

Drinques

Num bar qualquer. De preferência escuro. Depois de algumas bebidas.


Ela: Você sabe onde é o banheiro?

Ele: Você pode estar utilizando aquele da esquerda.

Ela: Gerundismo a essa hora da noite?

Ele: Consulto muito o telemarketing.

Ela: Por Deus...

Ele: Talvez tenha sido um ato falho.

Ela: Eu pedi para você deixar Freud em casa.

Ele: Ele me persegue... E você... que falou em Deus!

Ela: Mande-o embora. Deus fica.

Ele: É falta de educação.

Ela: Serei obrigada a chamar Camus.

Ele: Gosto de Camus. Mas digo a Freud que precisamos ter uma conversa a sós.

Ela: Diga que você precisa de liberdade.

Ele: Por favor, eu tenho 30 anos, moro com minha mãe e você vem falar em liberdade? E não me avalie por isso.

Ela: Não estou em condições de avaliá-lo. A crise capitalista também me pegou.

Ele: Mãe?

Ela: Mãe e pai.

Ele: Desculpe. E eu aqui falando de mim. Sua situação é muito pior.

(Olham por um minuto um casal de surdos conversando em língua de sinais)

Ela: Será que os surdos fazem sexo oral?

Ele: Esse papo não é muito pesado pra Deus?

Ela: Ele foi ao banheiro. Será que fazem?

Ele: Se eles tiverem dentes não vejo problemas. A leitura não é em braile?

Ela: Acho que você está confundindo com os albinos.

Ele: Você nunca cansa?

Ela: Às vezes. Mas eu nunca admiti isso pra você.

Ele: O quê você disse?

Ela: Eu disse nunca. Nunca canso.

Ele: Seu amigo, Deus, está demorando, não acha?

Ela: Se acalme. Em breve ele voltará.