19 setembro 2007

Meu pé de sagu

Sabe quando nada vem à cabeça? Sabe quando a gente não sabe o que pensar? Sabe, ou melhor, faz idéia de como é isso?
Se a resposta para todas essas perguntas for “não” eu tenho que admitir que você é um cara de sorte. Ou uma senhorita. Uma senhorita de sorte.
Eu sou uma senhorita. Mas de sorte não tenho nada. Talvez o nome do meu próximo bichinho de estimação. "Vem cá, sorte. Vem cá". Se chamar a sorte der sorte... ficarei bem!
Mas por enquanto fico com o azar. Se eu comprar um circo, o anão cresce. De tão desprivilegiada com a sorte que eu sou.
Sabe, eu acho realmente que nada do que falo vai servir algum dia pra alguém. Eu fico pasma, em algumas (re)leituras, de ver quanto inutilidade consigo escrever num mesmo espaço. Mas tanta bobagem escrita pode e deve ser justificada com o número de bobagens ouvidas.
Domingo, no almoço, um amigo começou a falar sobre a plantação de sagu que um tio dele mantém no seu sítio. Na mesma hora, pensei: “Que diabos! Meu pai mentiu pra mim de novo”. Certa vez, num tempo não muito distante da minha infância, meu pai contou brevemente que o sagu era feito com mandioca ou algo proveniente dela. “Mas que absurdo! Meu amigo é que tem razão. O sagu vem de árvores onde as bolinhas já saem prontas para serem cozidas”.
Balela! Tudo uma grande balela! Mas, enfim, meu amigo (da onça) me falou com uma convicção, com uma certeza, fez toda uma encenação que eu tive que acreditar nele. Eu sabia que havia algo errado, mas vai saber o que já não existe nesse mundão. Vai ver já criaram o tal pé de sagu.
A verdade é que eu acho que esse amigo gostar de testar as pessoas. O olhar dele é meio desconfiado, de quem está sempre pronto para te pegar no flagra. Sabe como?
No mesmo dia ele me contradisse quando eu falava a um colega de fora sobre o preço da entrada na torre da Telepar, onde se consegue uma vista única e parcial da cidade de Curitiba. Ao invés de 15, como eu havia dito, ele disse que a entrada custava uns 3 reais. Pode até ser, mas na minha cabeça eu jurava ter pago 15. Vai ver fui com 5 pessoas e paguei para todas elas. 5 vezes 3 é 15. Tem 15 aí no meio. Faz sentido.
O que, enfim, me incomoda nisso tudo é o fato de possivelmente eu ter passado uma informação errada. E isso, de um jornalista, é inaceitável. Se não sabe dar a informação, então não dê. Como fica a imagem de um jornalista que distorce a informação?
Ah, não sei não, mas hoje estou incomodada comigo mesma. Sabe aqueles dias em que você gostaria que sua vida fosse uma fita K-7 para poder rebobiná-la no fim da gravação e voltar apagando todos os erros? Hoje eu tô assim.
Acordei falando demais. Demais! ... “em boca fechada não entra mosca”... Tudo é dito sem pensar e isso é trágico pra mim.
Essa semana meu pai pediu que eu parasse de falar “quer que eu desenhe?”. É uma mania boba. É assim, eu explico uma coisa e se a pessoa demora muito pra reagir eu pergunto “entendeu? Ou quer que eu desenhe?”.
Eu tento ser autêntica, mas algumas pessoas, como meu pai, me barram, me podam, me dificultam, me bloqueiam.
Tá, eu sei que não dá sempre pra fazer o que a gente quer. O mundo tem regras, droga, eu sei. Mas ao menos de ser espontâneos deveríamos ter o direito, poxa!
Tão vendo? É disso que eu falo quando eu acho que nunca ninguém vai aproveitar o que escrevo. Se ao menos alguém dissesse “Ei, senhorita, seu texto me ajudou a compreender de onde vem o sagu”. Mas não, nem isso eu fui capaz de explicar.
Ah, eu só sei que no fim das contas o mundo é uma grande bola girando.
Entendeu? Ou quer que eu desenhe?