25 julho 2007

Momentos




Momento é a primeira palavra que me vem agora à cabeça. Momentos são vagos, rápidos e demorados. Pode parecer confuso – e não só parece, como é (ao menos, para mim) – mas é também uma maneira fácil de perceber como segue a nossa vida.
Momentos. Momentos que passam um segundo em nossa frente e Zap! O tempo levou. Só o passado ficou.
Aqui resta a caligrafia de uma memória pobre, vagarosa, talvez até desprezível. Momentos.
Recordo muito bem da minha adolescência. O início dela foi terrível. A maioria das meninas da minha idade já tinham namorado e eu ainda nem havia experimentado o primeiro beijo.
Recordo de um primo que eu idolatrava e idolatro até hoje – mas agora por motivo distinto. Na época, meu objetivo era fisgá-lo. O que no período eu não entendia é que eu agia de maneira errada. Ao invés de fisgar o seu coração, tentava fisgá-lo com presentes. Acho que os presentes até eram de boa qualidade. Mas não sei. Não deu certo! Hoje talvez ele continue não se interessando por mim e nem eu por ele. Não que ele não seja um bom partido ou não tenha um belo par de olhos, e nem que eu seja de se jogar fora. Mas são momentos.
Quantas coisas passam pela nossa vida despercebidas. Quantas coisas escapam das nossas mãos. Quantos sorrisos. Quantos “bom dia” na rua não poderiam ter sido transformados em “pode entrar”?. Meros “bom dia” que poderiam ter sido amplificados, estendidos, multiplicados e, por quê não, elevados a maior potência de felicidade.
Mas um bom dia já é tão difícil de arrancar dos olhos amedrontados com mais um dia de trabalho que, pedir propagação, talvez fosse pedir muito. Momentos de pensamentos infames.
Momentos que passam. Outros que ficam. Mas sempre momentos.
O momento de agora me traz a lembrança do meu último namoro. Eu estava chateada porque estávamos juntos há algum tempo e ele não sentia que me amava, apesar de fazer juras de que eu era a pessoa mais especial para ele e de realmente me fazer sentir única. Recordo de estar dirigindo para o meu pai numa tarde de sol. O trânsito estava um caos, eu havia falado com ele ao telefone não fazia muito tempo e, de repente, enquanto esperava o sinal abrir, recebi uma mensagem dele no visor do celular. “Eu não te amo ainda, mas você é a pessoa que eu mais gosto e que mais me importa no momento. Eu te adoro”.
Não, eu não gravei a mensagem. Mas ela ficou na minha memória. Bons momentos.
Hoje recordo desse dia com um misto de felicidade e angústia. Felicidade porque hoje eu compreendo aquela mensagem e tudo o que ela significou. Para esse antigo namorado, uma pessoa madura, que sempre manteve tudo em ordem e até mesmo segurou os seus sentimentos mais intensos para não perder o controle da sua vida, aquelas palavras foram difíceis de serem escritas e, posteriormente, ditas.
A angústia vem junto porque, na época, eu não compreendi o que agora entendo perfeitamente, e perdi uma das pessoas que certamente, se estivesse comigo hoje, me amaria por completo.
Momentos. Momentos perdidos. Momentos marcados. Momentos hoje apenas lembrados e que ao menos um dia foram vividos.
Momentos.

13 julho 2007

Não é só mais um...



Receber um elogio é gratificante. Melhor do que ler um elogio, é recebê-lo pessoalmente, ao pé do ouvido ou, ainda melhor, olhando nos olhos de quem o faz.
Ontem à noite fui a um jantar de despedida de um amigo. Despedida é modo de falar. Ao menos uma vez por ano ele vai à Itália - faz parte do seu trabalho. Porém, fazemos parte um pequeno grupo, porém seleto, que não perde a oportunidade de praticar qualquer tipo de comemoração. Não festejamos à ida dele porque o queremos muito bem. Porém, se é para aproveitar a noite, que assim seja. E foi.
Eu não queria ir ao jantar. (Jantar também é modo de falar. A verdade é que nos reunimos para beber. E como bebemos!) Havia trabalhado pesado. Foi dia de fechamento de jornal e a coisa tava pegando fogo. Vendi meu carro pela manhã e agora dependia da carona dos amigos e isso me deixa um tanto agoniada, já que sempre tive tudo às mãos. Bons tempos.
Por muita insistência de um amigo, acabei indo à farra.
- Meia hora e vamos embora?
- Meia hora!
O problema de combinar o tempo em que vamos permanecer em uma festa é que dificilmente dá certo. A festa pode estar boa para uns e péssima para outros. Aí, os horários não batem. Gosto dos meus amigos. Se não estou afim de ir a algum lugar, simplesmente não vou, porque não quero transmitir nenhum tipo de pessimismo ou energia negativa a ninguém. Acredito que estar de bem com a vida é imprescindível para fazer boas amizades.
Cumprimentei a todos. O clima parecia razoável. Havia bebida, música de qualidade – até um certo amigo colocar os dedos no aparelho de cd – e as mulheres estavam lindas como sempre. Achei incrível o fato delas estarem vestidas, em sua maioria, da mesma forma. Bota de cano longo por fora da calça, blusas em tons pretos e cinzas, perfumes exuberantes e acessórios mais ainda. Se tem uma coisa de que tenho orgulho, são de minhas amigas. Diferente de mim, todas são elegantes, bem vestidas e de uma beleza peculiar. Eu, como sempre, sou o “menino sem pipi”, como diz um amigo que ouviu a frase de outro amigo a meu respeito.
Lá estou eu. Perdida dentre aquelas mulheres maravilhosas e aqueles homens sedentos por todas aquelas carnes de qualidade. Impressionante como eu me destaco – quase sempre negativamente em relação ao visual – quando estou entre esse grupo. Mas não me sinto mal. Sempre fui casual, quase esportiva e um tanto rebelde quanto ao cabelo. Coloco sempre um colar ou algo pra distrair a atenção e quase sempre erro no conjunto todo. Eu sou do tipo que usa terno com tênis e "tô me achando a última bolacha do pacote".
O fato é que, no meio de tantas beldades, perdida, com sono e olhando no visor do celular a todo momento para contar as horas, eu consegui ouvir algo que talvez eu nunca pudesse escutar se não fosse até aquele jantar.
Foi bom, eu dei uns goles de vinho, conversei sobre diversas coisas, tirei fotos, fiz pose de Silvia Saint vestida de menino, mas... o melhor de tudo veio como uma neve caindo em pleno deserto. Não é impossível, mas é raro e, se acontece, você chora de alegria. Porque neve no deserto é uísque 12 anos em festa de criança. É quase impossível, mas é o que tem de melhor.
Ouvir de alguém que o que você escreve não é em vão é o melhor elogio que um escritor pode receber. Moral da história? Valeu a pena ter ido até lá.Não foi apenas um elogio. Não foi só mais um. Foi a melhor representação daquilo que almejamos: a sinceridade de alguém que te compreende.

Um Velho Novo Homem


Sinto-me hoje como dentro de um casulo. Fico recolhendo meu corpo, protegendo-me do frio. Ao mesmo tempo em que sei que ficar presa vai me deixar aquecida, sinto que preciso logo virar borboleta.
Quem me assiste hoje dentro desse alvéolo talvez não tenha idéia do meu estado há três semanas. Apesar da imagem ser um pouco melancólica, quem está ao lado vê só mais alguém com seu jeito tímido.
Não foi à toa que parei aqui com essas palavras. Eu dirigia o meu dicionário e acabei estacionando minhas letras coloridas em uma calçada sem cor. Levei multa, o dicionário foi guinchado e hoje só me resta a caligrafia mais triste e lenta que poderia existir. Vou a pé.
Ao mesmo tempo em que me sinto feliz por tudo nessas três semanas ter dado certo, sinto que falta um pedaço de mim.
Naquela segunda-feira fria, nublada por quase todo o dia e chuvosa à noite, eu não imaginava que minha vida estaria para mudar quase que completamente. Assim, bruscamente, sem pedir para que nada disso ocorresse.
Se torna tão difícil comentar o episódio que, ao mesmo tempo em que quero contar, quero também não lembrar.
Debaixo desse frio que me assola agora, vejo que não posso mais ter medo de nada. E parece que realmente não tenho.
Acredito que agora, depois de tanta dor e esforço, nada vai mais me atingir.
Recebi o telefonema do meu pai no meio da tarde. Ele perguntava se estava tudo bem, apresentou a voz rouca e disse que precisava de um medicamento para amenizar a sua gripe.
Ao fim daquela ligação eu não imaginava que tantos dias infernais estavam por vir.
No fim da tarde lá estava ele, em casa, agasalhado e preparando o seu último jantar. Uma sopa reforçada, cheia de tudo aquilo que deveria livrá-lo da gripe imediatamente. O último jantar de um homem.
Coloquei em volta do seu pescoço um cachecol para protegê-lo ainda mais do frio. Ficou uma imagem engraçada.
Meu pai, homem alto, forte, quase 100 kilos, de atitudes um tanto grotescas, vestia agora um delicado cachecol. Ele estava tão vulnerável que se permitiu usar o que em qualquer outro dia jamais usaria. Realmente, cachecóis não ornavam para ele.
- “E agora?” perguntei.
- “E agora vamos ver tv”.
Durante muito tempo eu odiei a televisão e tudo o que havia dentro dela. Isso se deveu ao meu pai, que “vivia” futebol e tudo relacionado ao esporte. Não detesto esportes, apesar de ser um tanto sedentária. Mas era de manhã, de tarde, à noite, em feriados e fins de semana, sempre lá estava meu pai atrás das notícias do futebol. E como a voz de Galvão não é lá tão agradável, deu no que deu.
Mas, por fim, tive que acabar me entendendo com a televisão. O jornalismo e tudo ligado a ele me exigiam ficar atenta aos noticiários e eu agora precisava da televisão, assim como da internet, do rádio, dos livros, jornais e revistas.
Mas não foi a tv que matou meu pai. Aliás, ninguém matou meu pai. Ele não morreu. Depois da sopa ele foi dormir e eu continuei a ver televisão. Quem diria?
Não durou muito tempo a distração. O dia tinha sido puxado e eu, em um raro momento, logo dormi.
Dormi, dormi, dormi até ser interrompida pela tosse incessante do meu pai. Minha mãe estava impaciente. Assim como eu, ela também precisava acordar cedo e logo sua voz se misturou à tosse do meu pai.
Não foi por maldade, mas meu desejo era de que eles se calassem logo, de uma vez, para que eu pudesse retomar meus sonhos.
Sonhos. Tantos sonhos e fui realizar logo o pior pesadelo.
Meu pai não estava bem e essa agonia durou um dia e meio, quando, na quarta-feira à tarde, finalmente, resolvemos ir todos juntos ao médico.
A agonia, por quase 5 minutos, nos deixou. Depois, largou seu principado e voltou à nossa casa para reinar.
Hoje, quase 30 dias depois, meu pai planeja o jantar. O primeiro jantar de um velho novo homem.

11 julho 2007

VALE A PENA REFORÇAR!

"A deputada Rosane Ferreira, do PV, tentou reeditar em Araucária a façanha do Amaral Neto, da ultradireita na Guerra Fria, do Ibad dos anos sessenta, que através da revista "Maquis", aconselhava que o público não adquirisse produtos das empresas que anunciavam no jornal "Última Hora". Ela tentou fazer o mesmo e usando o peso de deputada contra a publicação "Marco Zero". Quanto menor o campanário mais forte a pressão, ainda que sem ideologia".

Luiz Geraldo Mazza




Publicado na Folha de Londrina de 07 de julho de 2007.